“Assim, pode-se sustentar o ponto de vista de que são as roupas que nos usam, e não nós que as usamos; podemos fazê-las tomar a forma do braço ou do peito, mas elas moldam o nosso coração, nosso cérebro, nossa língua, à sua vontade.”
Virginia Woolf, in: Orlando. RJ. Nova fronteira. 2018, 3ª ed. Pág. 113. (1ª ed de Orlando 1928).
… um dia olhamos no espelho e tomamos consciência do nosso envelhecimento, pois está registrado nas nossas rugas, a musculatura flácida, os fios de cabelos brancos, perda de audição, visão, problemas dentários, osteoporose, entre outras e outras perdas. É um processo que acontece devagar desde o nosso nascimento.
Os acontecimentos mais significativos ficam registrados na nossa memória, a cor do vestido, o modelo, local, dia e hora.
A velhice é diferente do envelhecimento, a velhice é um estado de espírito, temos “Velhos” de vinte anos, como jovens de oitenta anos.
Jack Messy (psicanalista francês em seu livro, “A pessoa Idosa não existe”) lança um olhar com uma nova perspectiva sobre a velhice que é assim: o envelhecimento é um processo que vem sendo registrado no inconsciente de cada um de nós desde o nascimento, não podemos esquecer que o inconsciente é atemporal.
Imagina uma senhora passeando no shopping e se encanta por um vestido que está em suas lembranças de adolescência, entra na loja e pede para provar o vestido, e só neste momento se dá conta que seu corpo está diferente, dentro dela a velhice não se faz presente.
É difícil de aceitar a velhice, acredito que ninguém gosta muito de envelhecer… (eu não gosto nenhum pouco!), “o envelhecimento é um processo irreversível que se inscreve no tempo. Começa com o nascimento e progride involuntariamente até à morte.” Jack Messy
O nosso corpo é nossa primeira casa, somos cuidados assim que nascemos, andar, tomar banho, andar de bicicleta, dar a mão aos nosso pais para atravessamos a rua, à medida que crescemos aprendemos a nos cuidar.
O maior órgão do nosso corpo é a pele, é através deste corpo coberto pela pele é que vamos interagindo com o mundo através das emoções, dos desejos, dos projetos e assim vamos construindo nossa história de vida.
Envelhecimento, velhice e corpo é o meu compromisso com a moda e como vestir este corpo que envelhece com elegância, conforto, leveza e acima de tudo cuidar e respeitas as escolhas de cada uma, a sua identidade que te acompanha desde o seu nascimento, a construção da sua existência e o seu circular no mundo, no mundo familiar, profissional, lazer, no mundo dos afetos.
No livro, “O fio das missangas”, conto do autor Mia Couto da editora Companhia das letras podemos refletir como que é este fio de nylon, de linha, barbante, de aço, de palha… e como que gostaríamos de enfeitar os fios de missangas? Que cores? Missangas de vidro? Missangas de cristais? Missangas de flores? missangas de papéis? ou melhor qual é o meu encantamento do me vestir para mim e para o mundo, quais as missangas e fios que componho ao me compor!
Sobre Suely Tonarque
70 anos, nascida em Rancharia (São Paulo), há 35 anos pesquisa a forma e maneira de se vestir. É pedagoga. Psicóloga e gerontóloga. Autora do livro: Vestir com os desafios do envelhecimento.
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