Quem já não viu ou ouviu falar sobre as famosas Orelhas do Ear Parade espalhadas por nossa cidade de São Paulo?
Elas têm impactado milhares de paulistanos e gerado a discussão e conscientização estimada: “problemas de audição merecem atenção. É a deficiência com mais estigma.”
Aproveitando e apoiando esse processo de conscientização, convidamos a Fonoaudióloga Ariane Bonucci, Especialista em Audiologia Clínica e Educacional, Mestre em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo e Sócia Diretora do Espaço da Audição, para nos conduzir a um aprofundamento sobre o tema, sua relação com o Alzheimer e o acompanhamento necessário.
Perda auditiva
Atualmente, menos de 10% das pessoas sabem que têm um problema auditivo e quais são as consequências da perda auditiva não tratada. Além disso, a perda auditiva já se tornou a segunda principal doença crônica no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.
E daquelas que sabem que têm uma perda auditiva, é muito comum falarem que não precisam colocar aparelho auditivo, pois conseguem “se virar” muito bem no seu dia a dia e que a dificuldade auditiva não atrapalha na sua comunicação, já que não se importam de pedir para as pessoas repetirem de vez em quando. Às vezes, culpam até mesmo o outro por não articularem direito ou o próprio ambiente por estar ruidoso.
A família e o cuidador possuem um papel importante nesse processo de percepção quanto a perda auditiva de seu familiar e a busca por melhorias na qualidade de vida do indivíduo. Ter uma perda auditiva não tratada ou ignorada pode não parecer a maior dificuldade, mas pode ter um grande impacto a médio e longo prazo na saúde, na segurança e no emocional.
Privação sensorial
A perda auditiva afeta não somente a nossa comunicação, mas pode causar prejuízos graves ao nosso cérebro que fica em privação sensorial. Várias pesquisas já confirmaram esse impacto que a perda auditiva tem no declínio das funções cerebrais.
Muitas pessoas podem permanecer, durante anos, com o mesmo grau de perda auditiva e, mesmo assim, sentirem que a dificuldade de compreender a fala está piorando. Isso se dá porque o cérebro está em privação e o seu processamento auditivo está em declínio. Pesquisas sugerem que pode haver, inclusive, uma diminuição da massa cinzenta nesta região.
Perda auditiva e Alzheimer
No fim de 2017, uma publicação da revista LANCET sugeriu que 65% da predisposição para a doença de Alzheimer viriam de fatores genéticos, chamados pelos autores de “não-modificáveis”. Os outros 35% seriam fatores modificáveis, neles incluído com destaque a perda auditiva, como o de maior peso.
Dr. Rosa Sancho, chefe de pesquisa da Alzheimer’s Research UK, disse: “A demência e a perda auditiva geralmente andam de mãos dadas. Tratar a perda auditiva pode facilitar a vida das pessoas que sofrem de demência.”
A doutora Carol Routledge, diretora de pesquisa da Alzheimer’s Research UK, disse: “Como a perda auditiva é tão disseminada, ela pode ter mais impacto no número geral de casos de demência na população do que qualquer outro fator de risco conhecido.”
Assim, pode-se concluir que esperar a dificuldade auditiva piorar para pensar em colocar os aparelhos auditivos é ir minando aos poucos a própria independência.
Melhora significativa
Um projeto, na Inglaterra, com o foco na doença de Alzheimer, chamado PROTECT, divulgou recentemente os primeiros resultados mostrando que, em apenas 2 anos após o início do estudo, as pessoas que usavam os aparelhos auditivos apresentaram uma melhora significativa nos testes cognitivos em comparação com os deficientes auditivos que não aderiram à reabilitação auditiva.
Por isso, caso perceba que seu familiar tem apresentado algum sinal de dificuldade auditiva, agende uma avaliação o quanto antes para receber todas as orientações e tratamento adequado. Nossos parceiros do Espaço Audição podem ajudá-los nesse processo.